Jason Voorhees é o protagonista do primeiro filme de terror que assisti. Era bem criança, por isso não me lembro qual parte de “Friday the 13th” passava na televisão naquele dia. Recordo, porém, de ficar vidrado no cara da máscara de hóquei.
Não vi o filme até o fim na ocasião, pois, palavras da minha mãe, já era tarde e tinha aula no dia seguinte. Além do mais, aquilo “não era filme para criança”, acrescentava ela, irredutível aos meus apelos de menino desobediente.
Menos mal que voltaria a encontrar Jason em futuro breve, tanto na TV (e de novo, e de novo) quanto nas prateleiras de VHS das videolocadoras (que Deus as tenha). Não demorou para transformar Jason em meu antagonista favorito do cinema de horror, à frente de mestres faixa-preta como Freddy Krueger e Michael Myers.
Nota: há outro filme da série em que Jason, assim como no primeiro longa, não é o assassino principal. Não revelaremos o título para não estragar a surpresa. A Taberna respeita sua diversão.
O fato é que Jason é tudo o que a internet disse que Chuck Norris era, com a diferença de que joga no time dos vilões, obviamente. Jason Voorhees é, assim como Wolverine, o melhor naquilo que faz. É um artista nato na arte de matar, ainda que não se esforce para isso. Com Jason, não tem essa de torturar ou brincar com as vítimas — no máximo tempera a cena com um pouquinho de suspense e uma ou outra entrada triunfal. No mais, é pá, pum.
Jason visa a eficiência. Tal qual um executivo, vê a oportunidade, foca no objetivo, simplifica as ações e alcança o resultado. É um homem de poucas palavras. Na verdade, de nenhuma palavra. Trata-se de um sujeito tímido, introvertido, que gosta de trabalhar sozinho, de fazer as coisas a seu modo.
Apesar da orfandade e do passado difícil, Jason perseverou. Conquistou a golpes de facão o seu lugar neste mundo de Deus. O facão, por sinal, é seu instrumento de trabalho favorito. Mas não o único. Jason não é um matador de hábito. Utiliza de ferramenta o que estiver ao seu alcance. E quando não tiver nada além das próprias mãos, é elas mesmas que vão à massa. Um rapaz talentoso, esse Jason.
Há quem diga que, se melhor instruído fosse, Jason poderia usar suas habilidades de maneira mais construtivas, socialmente e politicamente falando. Só que Jason não tem ambições, é feliz assim, satisfeito. Mas não vai morrer fazendo o que gosta. Não que vá se aposentar ou mudar de emprego. Não vai morrer fazendo o que gosta simplesmente porque não vai morrer. Ele é o Jason, ora.
Não morrer é a segunda coisa que mais gosto no Jason. Seu fator de cura é provavelmente maior do que o do Hulk. Senão, vejamos: Jason levou mais de 400 tiros, foi esfaqueado uma centena de vezes, foi golpeado a machadada, foi atropelado por um trator, por um carro. Também foi soterrado, queimado, explodido, afogado, empalado, espancado, apedrejado, decepado, eletrocutado, atingido por um míssil, entre outras contusões, escoriações, fraturas e raladuras no joelho — fora as vezes em que deve ter batido com a canela na quina da cama.
Como citei a segunda coisa que mais gosto no Jason, tenho que contar qual é a minha característica favorita nele. É a serenidade. Ninguém no cinema de terror é tão focado e tranquilo quanto Jason. Ninguém consegue manter a concentração em níveis tão elevados como ele. E ninguém, além dele, pode caminhar mais rápido do que qualquer um é capaz de correr.
Pode ser que Jason tenha aprendido, assim como Goku e Chapolin Colorado, a técnica do teletransporte. Isso explicaria como ele sempre alcança suas vítimas, mesmo quando caminha a passos lentos. Quem sabe?
Criado por Victor Miller, com ampla contribuição deTom Savini, Jason Voorhees é um dos principais, se não o principal personagem do cinema de horror. Forjado na sequência de um filme que sequer era sobre ele — e nem de terror era — o assassino da máscara de hóquei saltou das telas direto para o imaginário popular. Quantos pesadelos esse tal de Jason não protagonizou mundo afora?
O lendário matador de Crystal Lake soube lidar com o sucesso, expandido seus banhos de sangue para outras mídias, como literatura, quadrinhos e games. No vídeo abaixo, vejam o que ele aprontou no jogoMortal Kombat:
O que acontece quando convidam Jason para jogar videogame
Hoje, 35 anos depois de tornar seu nome conhecido, ainda inspira um protocolo padrão a cada sexta-feira 13: podemos ficar em casa e assistir a um filme do Jason, ou acampar com os amigos e torcer para conhecê-lo pessoalmente.